Assinala-se hoje, dia 2 de abril, o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. Começa a ser comum, neste dia, vermos caminhadas organizadas em prol do autismo, edifícios decorados em tons de azul, vestir uma peça de roupa azul… Mas, será que sabemos o que é isto do Autismo na verdade? Em que ponto estamos e o que podemos ainda fazer? Como podemos ajudar?


1) O que é o autismo?

O Autismo, que corretamente se designa por Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), é uma alteração neurobiológica de causas e curas ainda desconhecidas, apesar da investigação cada vez mais crescente nesta área (Brentani et al., 2013). A própria caracterização desta condição também é bastante variável e o seu diagnóstico é difícil e pode demorar entre meses a anos. Sabe-se que tem uma frequência quatro vezes superior em rapazes e é já atualmente consensual na comunidade científica que assenta nestes 2 domínios: 1) Deficiências sociais e de comunicação; 2) Interesses restritos, fixos e intensos e comportamentos repetitivos. Existem outros sintomas que podem ser comuns, mas não são específicos para esta perturbação, podendo ser observáveis ou não, consoante o caso, tais como as capacidades cognitivas, a habilidade linguística e as comorbilidades psicopatológicas (APA, 2013).

Por ser um espetro de gravidade e prejuízos variáveis, não há duas pessoas com PEA iguais: os graus de autismo são diferentes, a funcionalidade é diferente e, acima de tudo, as pessoas e os seus contextos são diferentes. 

2) Quem faz o diagnóstico?

O diagnóstico da PEA é feito por uma equipa multidisciplinar onde deve constar sempre um Pediatra do Desenvolvimento. 

3) Quem faz a intervenção?

A intervenção é feita a nível clínico e terapêutico (terapia da fala, terapia ocupacional, psicomotricidade, entre outros), de acordo com as características de cada criança e família.

4) Quando e como podemos detetar?

Os primeiros sintomas da PEA estão presentes desde cedo. Existem sinais logo nos primeiros meses a que os cuidadores devem prestar especial atenção: não manter contacto visual, não reagir ao nome...

Por volta dos 12 meses, não apontar para pedir, não demonstrar interesse pelas pessoas mas somente pelos objetos, não se interessar por brincadeiras tipo “cuco”…

À medida que as exigências sociais vão aumentando (ex. entrada para a creche ou jardim-de-infância) os sintomas vão se fazendo notar, não por que a criança esteja a regredir, mas sim porque anteriormente não tinha tido ainda a necessidade de aplicar as suas capacidades a esse nível.

Estes são só alguns sinais e não indicam desde logo que a criança tenha PEA. Pode inclusive ter outro tipo de alteração (ex. surdez), comummente confundidos com PEA. Em qualquer dos casos, deve procurar os profissionais indicados pois os diagnósticos conclusivos são possíveis cada vez mais cedo (entre os 2 e os 3 anos) e a atuação dirigida faz a diferença.


5) As crianças pequenas diagnosticadas com PEA vão ser “normais”? 

O alcance da referida “normalidade” é uma das questões mais colocadas por pais de crianças com PEA. Em primeiro, a “normalidade” é um conceito altamente discutível, pois ninguém é igual a outro, logo onde termina e acaba o conceito de normalidade? Remetendo a questão para o alcance do “desenvolvimento típico”, a resposta não pode ser taxativa. O autismo é obviamente uma perturbação permanente e por mais teorias que surjam a uma velocidade estonteante (atenção que muitas das vezes estas teorias não têm qualquer validade cientifica!) não existe ainda uma cura! Por isso, sejamos claros, a criança terá de viver com essa condição. A família terá de viver com essa condição. A escola terá de viver com essa condição. A comunidade terá de viver com essa condição…  

Mas…! Se a criança e seu contexto envolvente forem alvo de uma intervenção atempada, adequada e personalizada às suas características poderão minimizar-se (e muito!) os efeitos negativos desta condição na participação em atividades do dia-a-dia. 

A equipa de Terapia da Fala do GAFC - Diana Costa e Joana Pinheiro